sexta-feira, 18 de abril de 2014

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LIXO AUTOMOTIVO

LATA VELHA
O triste destino dos carros
Se reciclados, eles valeriam um bom dinheiro. Mas as leis para isso estão emperradas
Afonso Capelas Jr. National Geographic Brasil - Especial Lixo - 12/2013 Victor Moriyama

Carros também morrem. E são abandonados nas ruas ou levados a "cemitérios", como este em São Paulo.
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Em tempos de trânsito cada vez mais caótico nas grandes cidades, a reputação dos automóveis anda arranhada. 

São eles os grandes vilões a atravancar uma
 eficiente mobilidade urbana. No Brasil, há ainda outro fator que denigre a imagem dos veículos automotores - no caso, aqueles que não estão mais rodando: a imensa frota nacional de carros abandonados. Relegados ao deus-dará nos pátios dos departamentos estaduais de trânsito por questões legais - ou até mesmo esquecidos pelas ruas por motivos como falta de pagamento de impostos ou multas em excesso -, eles são milhares espalhados pelas cidades brasileiras, incluindo motocicletas, ônibus e caminhões. 

Para agravar a situação, só em 2012 foram emplacados mais de 5,5 milhões de veículos 0 km, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Isso significa que mais veículos deixarão de circular e terão como destino um
 ferro-velho qualquer. 

Além do
 perigo ambiental que representam, esses restos mortais de lata também revelam a fortuna que o país deixa de arrecadar por não reciclá-los. O Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo (Sindinesfa) estima que só 1,5% dos veículos fora de circulação é enviado àreciclagem. Nos Estados Unidos e na maioria dos países europeus, o índice alcança 95%. Segundo o Sindinesfa, tudo em um carro pode ser reaproveitado. Em especial, a carcaça e as demais peças de metal. Elas voltam a ser matéria-prima nobre para as indústrias siderúrgicas, que depois abastecem os fabricantes de novos veículos. 

Só a cidade de São Paulo abriga uma mina de ouro em carros que já não rodam mais e poderiam ser reprocessados. Em um dos maiores depósitos de veículos apreendidos do país, o Pátio Santo Amaro, milhares deles apodrecem, de forma perigosa, à beira do mais importante
 manancial de abastecimento de água da capital paulista, a represa de Guarapiranga, na zona sul da cidade. Na área de 80 mil metros quadrados, situada a menos de mil metros do manancial, estão armazenados cerca de 20 mil veículos, retirados das ruas pelo poder público. São automóveis e motocicletas roubados, com chassi adulterado ou com irregularidades a ameaçar de contaminação as águas que boa parte dos paulistanos bebe. Pela lei, cada um deles só poderia estar ali por até três meses. Caso os proprietários não regularizem a situação, esses automóveis deveriam ir a leilão. 

Mas grande parte dessa frota fantasma enferruja no Pátio Santo Amaro há mais de dez anos. A área é particular, e foi alugada pelo estado só para a guarda dos veículos irregulares. O que era para ser um bom negócio ao proprietário se transformou em estorvo e um grande imbróglio judicial, contra o governo, que se arrasta há anos. Amargando um prejuízo do tamanho de seu terreno, o proprietário demitiu os funcionários que cuidavam dos veículos, que agora estão à mercê das intempéries e dos ladrões, que abastecem de peças desmanches clandestinos. "O Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de intimar, pela quinta vez, o governador para retirar os veículos daqui. E isso deve ser feito antes que aconteça um grande estrago ambiental", diz um representante do Pátio Santo Amaro, que não quis se identificar por temer represálias. Há muitas áreas semelhantes ao redor da represa de Guarapiranga.

Nem mesmo o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) sabe exatamente quantos veículos estão sepultados em cemitérios irregulares. Questionado, o Contran - por meio da assessoria de comunicação social do Ministério das Cidades, ao qual está subordinado - limita-se a dizer que o assunto é de competência de cada órgão de gestão viária dos estados e municípios. Mas reconhece que as questões legais emperram a liberação dos veículos para a reciclagem, já que "a alienação de sucata de veículo por órgão público deve cumprir de forma rigorosa a lei de licitações, e envolve muitas formalidades", informa a assessoria.
 

CARROS: É PRECISO RECICLAR MAIS - Sustentável na Prática

Afonso Capelas Jr.

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Você sabia que a carcaça de um automóvel velho pode ser 100% reciclada? E que essa mesma carcaça, transformada em sucata de aço, é totalmente reaproveitável pelas indústrias siderúrgicas, que a transforma em matéria-prima novamente? O problema é que muitos carros velhos não chegam às empresas recicladoras – que são muitas no Brasil – por causa de entraves burocráticos. Como resultado, só 1,5% dos carros que saem de circulação no Brasil é destinado à reciclagem. Isto às vésperas da efetiva implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
A grande maioria das carcaças que não seguem para a reciclagem é de veículos apreendidos pela polícia por questões judiciais diversas. Para ter idéia, só na cidade de São Paulo existem mais de 45 mil veículos abandonados pelos proprietários nos pátios dos órgãos de fiscalização do governo.

O mais absurdo: só à beira da represa de Guarapiranga, um dos maiores mananciais de água para o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, existe milhares desses carros sucateados. “Podem chegar a mais de 20 mil”, diz o presidente do Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Sindinesfa), Valentin Scamilla. “Eles representam um problema ambiental sério. Estão apodrecendo e podem contaminar a represa com a ferrugem e o vazamento de líquidos altamente tóxicos como óleos de freios e motor, além dos fluidos de resfriamento e das baterias”, alerta Scamilla.

No final do mês passado, o governo paulista anunciou que os 45 mil carros que se acumulam e entopem os pátios da fiscalização serão destruídos e vendidos como sucata para as indústrias de reciclagem. A medida só foi possível graças a uma autorização do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Assim, os donos dos carros velhos terão 10 dias para regularizar sua situação, ou desistir dos veículos. “Para restituir seu automóvel, o proprietário terá que pagar multas e demais despesas. Acontece que a maioria desses carros já não tem mais valor econômico como veículo, somente como reciclagem”, explicou o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, à Agência Brasil.

O presidente do Sindinesfa acredita que mesmo assim essa situação possa voltar a se repetir. “A solução seria pagar bônus aos proprietários com veículos velhos apreendidos, para que eles autorizem a reciclagem, como já acontece em vários países, e instituir pontos de coleta desses carros imprestáveis”.

Valentin informa que hoje, no Brasil, de 3 a 4 milhões de carros deveriam ser reciclados e garante que as empresas recicladoras estão totalmente equipadas para receber essas carcaças. “Assim, com a chegada da Política Nacional de Resíduos Sólidos, conseguiríamos aumentar a quantidade de aço reciclado no país de atuais 30% para 50%”.

A maior parte do aço recriado se transforma novamente em automóveis ou em vergalhões para a construção civil. Infinitamente. Os benefícios para o planeta são imensos: o processo de reciclagem reduz a poluição do ar em 85% e o consumo de água em 76%, se comparado à atividade de recorrer à natureza para retirar a matéria-prima básica. Mais: para cada tonelada de aço reciclado há uma economia de 1 140 quilos de minério de ferro, além de uma diminuição no consumo de 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal.

No mundo todo, a Turquia é o país que mais reaproveita o aço dos automóveis. Lá, cerca de 80% deles são reciclados. É uma necessidade, já que os turcos não dispõem de grandes reservas de minério de ferro.

Carro abandonado é problema

Saiba o que fazer com aquele veículo caindo aos pedaços na sua rua e entenda o que a legislação diz sobre eles
Karina Craveiro
720 veículos abandonados foram recolhidos na capital em 2013 - AE/Tiago Queiroz
AE/Tiago Queiroz
720 veículos abandonados foram recolhidos na capital em 2013
A multa de R$ 14 mil por abandono de veículo parece não intimidar – o número de carros recolhidos das ruas pela Prefeitura de São Paulo não para de aumentar. Em 2011, 1.500 veículos “esquecidos” por seus proprietários viraram sucata. No ano seguinte, foram 2.260.
De janeiro até o mês passado, foram retirados das vias da cidade 720 veículos em estado de abandono. O destino deles são os leilões. Dez foram realizados no decorrer de 2013. 
A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que recolhe os veículos que estejam parados em local proibido, realizou outros três leilões neste ano. Foram vendidos 1.741 carros como sucata, gerando arrecadação de R$ 2,1 milhões. O último pregão foi realizado na quinta-feira passada. 
Pelo telefone 156 ou no site sac.prefeitura.sp.gov.br, é possível denunciar um carro abandonado. Antes de o veículo ser removido, a Subprefeitura vai ao local e fixa uma notificação à carroceria, informando que o proprietário tem até cinco dias úteis para removê-lo. 
Se o responsável não se manifestar, o histórico do carro será checado. Se não houver empecilho, o veículo passa a ser considerado sucata e tem inicio o procedimento de remoção. 
Finais felizes
O administrador de empresas Paulo Rogério Adriani se considera um caçador de raridades. Apaixonado pela marca americana Dodge, ele estava a procura de um modelo diferente quando soube que havia um Intrepid em São Paulo.
Após fazer buscas em diversos pátios da Prefeitura, ele descobriu que o sedã estava no pátio de Guarulhos. “Mas, mesmo tendo os dados do carro, não consegui achá-lo, pois ele estava perdido entre mais de 10 mil veículos, esperando liberação para o leilão”, relembra. 
Dois anos depois, um amigo de Adriani foi ao mesmo pátio e encontrou o modelo. O administrador foi, então, correndo ver como o carro estava. 
Segundo ele, o Dodge, que havia sido tomado de seu antigo dono por falta de pagamento, estava no mesmo local desde 2001. Adriani arrematou o Intrepid em 2006, por R$ 12.750. “O motivo de eu querer resgatar esse carro é que se trata de um modelo raro no Brasil. Sei que existem, no máximo, sete unidades no País.” Ele gastou, com reparos e documentação, mais de R$ 20 mil. Mas agora o carro está tinindo. 
Já o empresário Raphael Faccioli diz que quase perdeu as contas do montante investido em uma Toyota Hilux 1995, que encontrou nos fundos de uma fábrica, em 2011. “Fiz uma bela reforma. Da última vez que somei, tinha gasto uns R$ 25 mil nessa picape”, conta.
Quando Faccioli o viu pela primeira vez, o modelo estava com o motor desmontado em cima da caçamba, vidros abertos e coberto por uma capa de poeira. O propulsor havia fervido e, por causa da dificuldade de encontrar peças e do alto custo de mão de obra para o reparo, o antigo proprietário encostou o carro. 
“Sou teimoso. Cismei com essa Hilux. Paguei R$ 7 mil para ficar com ela”, diz Faccioli, que levou a picape para casa para dar a primeira geral. O utilitário da Toyota ficou por 11 meses em uma oficina, onde foi feita a retífica do motor. “Se isso valeu a pena financeiramente, não sei ainda. Mas eu curti muito”, diz. 

















AMBIENTE

Frota de carros abandonados cresce na cidade

Subprefeituras criam programas de emergência para retirar das ruas veículos “vira-latas”Subaru Impreza: abandonado há três meses na Saúde, Zona Sul

1 de 13 Subaru Impreza: abandonado há três meses na Saúde, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Mazda: abandonado há seis meses na Chácara Inglesa,  Zona Sul

2 de 13 Mazda: abandonado há seis meses na Chácara Inglesa, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Towner: abandonado há um ano na Saúde, Zona Sul

3 de 13 Towner: abandonado há um ano na Saúde, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Logus: abandonado há dois meses na Lapa, Zona Oeste

4 de 13 Logus: abandonado há dois meses na Lapa, Zona Oeste (Foto: Felipe Bertarelli)Fiorino: abandonado há um ano no Planalto Paulista,  Zona Sul

5 de 13 Fiorino: abandonado há um ano no Planalto Paulista, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Blazer: abandonada na Praça da Árvore, Zona Sul

6 de 13 Blazer: abandonada na Praça da Árvore, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Premium: abandonado na Lapa, Zona Oeste

7 de 13 Premium: abandonado na Lapa, Zona Oeste (Foto: Felipe Bertarelli)Mercedes: abandonada em Perdizes, Zona Oeste

8 de 13 Mercedes: abandonada em Perdizes, Zona Oeste (Foto: Felipe Bertarelli)Fusca: abandonado no Alto da Boa Vista, Zona Sul

9 de 13 Fusca: abandonado no Alto da Boa Vista, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Kombi: abandonada no bairro Santo Amaro, Zona Sul

10 de 13 Kombi: abandonada no bairro Santo Amaro, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)Kombi: abandonada no bairro Santa Cruz, Zona Sul

11 de 13 Kombi: abandonada no bairro Santa Cruz, Zona Sul (Foto: Felipe Bertarelli)

 

 

 por Pedro Henrique Araújo

Parado há três meses na Alameda dos Guatás, no bairro da Saúde, Zona Sul, o Subaru Impreza 1995 está sem as rodas e os vidros. O que algum dia rodou por aí como um respeitável sedã importado hoje é uma assombração mecânica, completamente suja e enferrujada. Seu proprietário, o gesseiro Julio Freitas, de 36 anos, que mora em frente, confessa ter sido o responsável por largar ali o veículo. Ele explica que o automóvel foi roubado em 2009 e recuperado pela polícia pouco tempo depois. “Mas os bandidos depenaram o carro e não tenho dinheiro para comprar as peças de reposição”, explica.
Cenas parecidas se repetem em muitos pontos da capital. Na Rua Aurélia, Zona Oeste, um Logus, também fabricado em 1995, ocupa uma vaga há mais de dois meses, com a lataria chamuscada por um incêndio ocorrido no estacionamento de um supermercado. Na Saúde, Zona Sul, a porta de uma clínica veterinária é “decorada” com uma Towner 1991 caindo aos pedaços. O responsável pelo carro, que não quis revelar o nome, alega ter vendido o monstrengo para um ferro-velho, que até hoje não apareceu para retirá-lo.
Remoção de carcaça: o processo costuma se arrastar por, no mínimo, três meses
Remoção de carcaça: o processo costuma se arrastar por, no mínimo, três meses
Uma questão que dificulta a agilização do processo é a burocracia. Demora muito tempo para que o poder público possa tomar uma providência. A novela dura em média três meses para chegar ao fim. Depois de cinco dias estacionado num mesmo lugar, um carro pode ser denunciado. Um fiscal comparece ao local para avaliar a situação e, se comprovada a suspeita de abandono, deixa uma notificação grudada na porta do modelo. Passados mais cinco dias úteis, caso a situação persista, a subprefeitura responsável pela área pode retirar o veículo e mandá-lo para um dos 31 depósitos municipais. Se quiser reaver o bem, o proprietário terá noventa dias para pagar uma multa de 12.000 reais. Poucos fazem isso, pois o valor desses carros costuma ser menor do que o da infração. A etapa final consiste no leilão da sucata. Um quilo de ferragem é vendido, em média, por 30 centavos. Com isso, o Subaru 1995, triste fim, valeria no máximo 500 reais.
Diante dessas dificuldades, algumas subprefeituras criaram forças-tarefa para tentar dar conta do serviço num ritmo mais rápido. Foi o que aconteceu recentemente na Casa Verde. Nos últimos meses, os fiscais fizeram marcação cerrada sobre 200 proprietários até que eles arrumassem uma solução para as carcaças que haviam deixado nas vias do bairro. Em Santana, uma operação semelhante começou em 2009. O saldo até agora é de 235 remoções. “Os carros largados se tornam um grande obstáculo em vários aspectos”, afirma José Francisco Giannoni, subprefeito de Santana e Tucuruvi. “Eles diminuem as vagas para estacionamento, podem servir de casa para moradores de rua ou viciados e ainda dificultam a limpeza do local”, completa ele.
José Francisco Giannoni, subprefeito de Santana e Tucuruvi: “Eles se tornaram um grande obstáculo“
José Francisco Giannoni, subprefeito de Santana e Tucuruvi: “Eles se tornaram um grande obstáculo“: Pablo de
Alguns artistas paulistanos resolveram chamar atenção para o descaso transformando as latas-velhas em cenários de instalações. Na Vila Madalena, por exemplo, os restos de um Santana Quantum abrigam hoje arranjos de plantas e flores feitos pelos integrantes do projeto Natureza Urbana. A história começou em 2007 por iniciativa de moradores como o arquiteto Geandre Tomazoni. “Queremos dar vida a uma massa de materiais jogada na cidade”, afirma ele. Desde então, o grupo realizou quatro grandes obras do tipo. No começo, a decoração era constantemente roubada. Mas, com o passar do tempo, a sabotagem acabou. “As pessoas hoje nos ajudam a cuidar e dão sugestões para incrementar os trabalhos”, conta Tomazoni. “Certa vez, numa manhã, vi alguns funcionários de um estacionamento regando a Quantum.”
A iniciativa despertou a atenção de curadores internacionais, que chamaram o grupo em 2009 para fazer uma intervenção do gênero num automóvel durante uma exposição em Graz, na Áustria. “As pessoas ficaram muito impressionadas com o resultado”, diz Tomazoni. No ritmo atual, caso nada seja feito em São Paulo, não vai faltar matéria-prima para as obras dos criadores do Natureza Urbana.


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